maio 26, 2011

A floresta.

Eu me lembro do dia em que destruiram minha casa. Morei lá 15 anos. Não era minha de verdade, era do meu avô e ele morreu. E os filhos dele decidiram vender o mais depressa possível. Mais de 25 árvores frutíferas, e uma biodiversidade imensurável. O espaço era grande, e tinha uma força espiritual que só a natureza nos dá. Demoliram tudo e cortaram todas as árvores. Chorei. Eu já sabia o que estava por vir qdo meu avô ficou bem velhinho e doente. Acompanhei o processo resignada e tranquila, minha tarefa era cuidar dele junto com minha mãe e amar aquela vida natural até quando fosse permitido. Agora eu imagino, a dor do Cacique Raoni.* Imagino, por que saber, não vou saber nunca. Enquanto a maioria das pessoas, inclusive eu, tem de se levantar amanhã e ir trabalhar.

Mataram Seu
Zé Cláudio, extrativista sustentável no Pará, por tentar defender a floresta contra desmatamento ilegal. Lembro que um dia eu li um gibi, acho que era da Mônica, que falava do tempo de um presidente negro norte americano e uma presidenta no Brasil. Lembrança de infância pode ser bobagem, mas associo essa lembrança a marca desse tempo de desrespeito do ser humano com a vida. Com seu lar, com a floresta, com a verdade, estou de saco cheio desse sistema financeiro fictício (oi?! alguém aqui já assistiu zeitgeist e sabe que se todos os homens fossem tirar dos bancos seu dinheiro, isso não seria possível?).
Estou farta da falta de amor a vida.

Estou triste, muito triste, por que dias atrás fui a um protesto contra a belo monte na Paulista, a mais famosa avenida da maior cidade do país e os manifestantes não somavam 50 pessoas no total. O ser humano está anestesiado em si mesmo, seja na busca de sua alegria ou pra resolver a sua dor. Para ambas, a resposta é: reintegração com a natureza, respeito e valor a vida.



*"A foto acima, do guerreiro e cacique Raoni foi publicada erroneamente como se fosse um choro por causa da Belo Monte. Na realidade a foto é do funeral de Orlando Villas Boas.
De todo jeito, a Terra chora ao saber que o governo liberou o início das construções de Belo Monte, mesmo após cartas dirigidas que foram ignoradas, e ainda mais de 600 mil assinaturas que foram igualmente ignoradas. Foi decretada a sentença de morte dos povos do Xingu. Belo Monte seria maior que o Canal do Panamá, inundando pelo menos 400.000 hectares de floresta, expulsando 40.000 indígenas e populações locais e destruindo o habitat precioso de inúmeras espécies - tudo isto para criar energia que poderia ser facilmente gerada com maiores investimentos em eficiência energética. Os índios vão lutar. E o melhor é que não haja guerra, nem Belo Monte."

5 comentários:

Isa disse...

a dor que é nossa e que deveria ser de todos.

kuroyAmaSUN disse...

Estou resignada Isa. Acredito que se está assim, é por que tem que estar. Nada acontece sem a permissão da própria Terra. Ela comanda, nós não... então vamos ficar tranquilas. Esse pensamento me conforta.

Carlos Alberto disse...

Um notícia extremamente triste.

Rafaela Leite disse...

belas palavras, mari. também estou cansada e triste, mas me revigoro um pouco quando leio algo assim, por saber que ainda somos um pequeno grupo, grãos de esperança, fagulhas de mudança. cariño.

Drica Oliveira disse...

Amiga, sinto que vamos ver muito disso ainda ocorrer nestes tempos... mas vejo também algo muito especial florescer no coração das pessoas. A família está despertando... reconhecendo a luz. Não deixa que a ignorância te tire as energias, mas também não te cales nunca. Tuas palavras são luz no coração!